Porque, felizmente, as mulheres estão, hoje, longe da imagem frágil e inútil de outros tempos, aqui fica um miminho, em jeito de comemoração, para fazer sorrir ambos os sexos!
A MENINA DO CAPUCHINHO VERMELHO«Como estou farto de fazer de bobo!»
Disse, cheio de fome, o senhor lobo.
«Há quatro dias que não trinco osso,
A avozinha vai ser meu almoço.»
Quando a avozinha lhe abriu a porta
Com susto tremeu e, meia morta,
Fitou aqueles dentes a brilhar.
«Ai, que o malvado me quer devorar!"
A pobre senhora tinha razão
Porque ele a comeu com sofreguidão.
A avozinha era pequena e dura,
O almoço não foi uma fartura.
«Ai, estou com uma fome aterradora,
Pronto a comer outra senhora.»
Foi procurar petiscos na cozinha
Mas nada para roer o bicho tinha.
«Vou-me sentar no colchão de folhelho
À espera do Capuchinho Vermelho.»
Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia
Saia de seda, botas de verniz,
Chapéu de veludo foi o que quis.
Escovou o pêlo, as garras pintou,
Bem disfarçado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moça chegou, toda de encarnado.
«Ó minha avozinha, quero saber,As tuas orelhas estão a crescer?»«Sim, minha neta, para melhor te ouvir.»«Que grandes olhos tens, querida avó»,Disse a menina cheia de dó.
«São para melhor te ver»
, disse o lobo
E pôs-se a pensar: «Não sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um pão de ló,
Não é velha nem dura como a avó.»
«Mas avozinha», disse a menina,
Tens um casaco de pele tão fina.»«Não», disse o lobo, «Deves perguntar
porque são meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres.»
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com uma certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.
Passaram os dias, passou um mês,Vi a menina no bosque outra vez,Mas sem o capuz, sem capa encarnada.Toda diferente, toda mudada.Sorrindo me explicou: «Daquele boboFiz este casaco de pele de lobo».OS TRÊS PORQUINHOSDos bichos todos o que eu mais estimo
É o porquinho e não é meu primo.
São nobres os porcos, inteligentes,
Bem educados e muito valentes.
Mas como não há regra sem excepção,
De vez em quando surge um parvalhão.
Diga-me você o que pensará
Se, passeando pelo bosque, lá
Fôr encontrar um porco que trabalha
A construir uma casa de PALHA?
O lobo que tal viu pôs-se a pensar:
«Este tonto vai ser o meu jantar.»
«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então vou soprar mais forte que o vento,
A tua casinha não dura um momento!»
Por mais que rezasse a criatura
O lobo destruiu-lhe a arquitectura.
«Fiambre e presunto já eu provei.
De todos os lobos eu sou o rei.»
Do pobre porquinho, ao fim e ao cabo,
Não se salvou nem a ponta do rabo.
Seguiu o seu passeio o lobo, inchado,
Mas o que viu logo o deixou pasmado:
Outra casa de porcos entre a folhagem
Toda feita de TRONCOS e RAMAGEM
«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então vou soprar mais forte que o vento,
A tua casa não dura um momento.»
Gabou-se o lobo: «Vais ver, leitão!»
E pôs-se a soprar que nem um tufão.
Grunhiu o porquinho num alvoroço
«Já comeste, ó lobo, um bom almoço.
Não queres comigo fazer um contrato?»
«Para eu te comer antes num prato?»
Agarrou-o sem lutas nem fadiga,
Num instante lhe estava na barriga.
«Dois gordos porquinhos comi a eito
Mas ainda não estou satisfeito»,
Disse o lobo. «Não me importaria
De comer outro lá para o meio dia.»
De modo que com passo subreptício
O lobo se abeirou de outro edifício,
Onde outro porquinho estava abrigado
Com medo de também ser devorado.
Mas este porquinho, que era o terceiro,
Foi mais esperto e muito matreiro.
Com palhas e ramos trabalha um tolo,
Ele fez a casa só de TIJOLO.
«Aqui não me apanhas», o porco disse.
«Apanho-te já, tens muita tolice.»
«Para isso precisas de muito soprar
E a minha casa não vai abanar.»
O lobo soprou que nem furacão,
A casa era forte, soprava em vão.
«Não a deito ao chão por mais que me irrite.
Vou deitá-la ao ar com dinamite.»
«Grande malvado!», gritou o porquinho,
«Hei-de salvar-me. Espera um pouquinho.»
No telefone pegou apressado
O nosso porco tão ajuizado.
À espera de ouvir algum bom conselho
Ligou para o Capuchinho Vermelho.
«Alô», disse ela, «Quem está a falar?
És tu porquinho, que me vens contar?»
«Preciso que me ajude , Capuchinho,
Tenho problemas com um mau vizinho.»
«Vamos ver o que posso fazer...
Ah, é um lobo que te quer comer.»
Disse a menina nada amedrontada,
Pois com lobos estava habituada.
«Ai a minha vida corre muito torta»,
O porco disse, «Tenho um lobo à porta.»
«Os meus cabelos eu estava a lavar,
Espera aí, que já os vou secar.»
Pouco depois, através da floresta,
Chegou a menina, brava e lesta.
Lá estava o lobo, de olhos a brilhar
Como dois punhais prontos a cortar,
Abrindo a bocarra, afiando os dentes,
Rasgando a terra com garras valentes.
A menina puxou da camisola
Com rapidez sua velha pistola.
Mais uma vez no lobo acertou,
Só com um tiro o bicho matou.
O porquinho, espreitando pela janela,
Aplaudia aquela bela donzela.
Porquinho, nunca deves confiarQue moça fina te queira ajudar.Capuchinho Vermelho tem meu bobo,Dois belos casacões de pele de lobo.E viaja com MALINHA DE MÃOFEITA DE PELE DE PORCO, pois então!in Histórias em verso para meninos perversos Roald Dahl