sexta-feira, 7 de março de 2008

8 de Março

Porque, felizmente, as mulheres estão, hoje, longe da imagem frágil e inútil de outros tempos, aqui fica um miminho, em jeito de comemoração, para fazer sorrir ambos os sexos!



A MENINA DO CAPUCHINHO VERMELHO

«Como estou farto de fazer de bobo!»
Disse, cheio de fome, o senhor lobo.
«Há quatro dias que não trinco osso,
A avozinha vai ser meu almoço.»
Quando a avozinha lhe abriu a porta
Com susto tremeu e, meia morta,
Fitou aqueles dentes a brilhar.
«Ai, que o malvado me quer devorar!"
A pobre senhora tinha razão
Porque ele a comeu com sofreguidão.
A avozinha era pequena e dura,
O almoço não foi uma fartura.
«Ai, estou com uma fome aterradora,
Pronto a comer outra senhora.»
Foi procurar petiscos na cozinha
Mas nada para roer o bicho tinha.
«Vou-me sentar no colchão de folhelho
À espera do Capuchinho Vermelho.»
Disse o lobo enquanto se vestia
Com as roupas que por ali havia
Saia de seda, botas de verniz,
Chapéu de veludo foi o que quis.
Escovou o pêlo, as garras pintou,
Bem disfarçado assim se sentou.
Um pouco depois, em passo apressado,
A moça chegou, toda de encarnado.

«Ó minha avozinha, quero saber,
As tuas orelhas estão a crescer?»
«Sim, minha neta, para melhor te ouvir.»
«Que grandes olhos tens, querida avó»,
Disse a menina cheia de dó.
«São para melhor te ver», disse o lobo
E pôs-se a pensar: «Não sou nenhum bobo,
Esta bela menina vou papar,
Que bom petisco para o meu jantar.
Vai saber-me que nem um pão de ló,
Não é velha nem dura como a avó.»
«Mas avozinha», disse a menina,
Tens um casaco de pele tão fina.»
«Não», disse o lobo, «Deves perguntar
porque são meus dentes de espantar.
Bem, digas tu o que disseres
Como-te sem prato nem talheres.»
A menina sorriu. Da camisola
Sacou de imediato uma pistola
E com uma certeira pontaria
Pum, pum, pum, aquele lobo morria.

Passaram os dias, passou um mês,
Vi a menina no bosque outra vez,
Mas sem o capuz, sem capa encarnada.
Toda diferente, toda mudada.
Sorrindo me explicou: «Daquele bobo
Fiz este casaco de pele de lobo».


OS TRÊS PORQUINHOS

Dos bichos todos o que eu mais estimo
É o porquinho e não é meu primo.
São nobres os porcos, inteligentes,
Bem educados e muito valentes.
Mas como não há regra sem excepção,
De vez em quando surge um parvalhão.
Diga-me você o que pensará
Se, passeando pelo bosque, lá
Fôr encontrar um porco que trabalha
A construir uma casa de PALHA?
O lobo que tal viu pôs-se a pensar:
«Este tonto vai ser o meu jantar.»

«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então vou soprar mais forte que o vento,
A tua casinha não dura um momento!»

Por mais que rezasse a criatura
O lobo destruiu-lhe a arquitectura.
«Fiambre e presunto já eu provei.
De todos os lobos eu sou o rei.»
Do pobre porquinho, ao fim e ao cabo,
Não se salvou nem a ponta do rabo.

Seguiu o seu passeio o lobo, inchado,
Mas o que viu logo o deixou pasmado:
Outra casa de porcos entre a folhagem
Toda feita de TRONCOS e RAMAGEM

«Porquinho, porquinho, deixa-me entrar!»
«Não, que és lobo e me queres apanhar!»
«Então vou soprar mais forte que o vento,
A tua casa não dura um momento.»

Gabou-se o lobo: «Vais ver, leitão!»
E pôs-se a soprar que nem um tufão.
Grunhiu o porquinho num alvoroço
«Já comeste, ó lobo, um bom almoço.
Não queres comigo fazer um contrato?»
«Para eu te comer antes num prato?»
Agarrou-o sem lutas nem fadiga,
Num instante lhe estava na barriga.
«Dois gordos porquinhos comi a eito
Mas ainda não estou satisfeito»,
Disse o lobo. «Não me importaria
De comer outro lá para o meio dia.»

De modo que com passo subreptício
O lobo se abeirou de outro edifício,
Onde outro porquinho estava abrigado
Com medo de também ser devorado.
Mas este porquinho, que era o terceiro,
Foi mais esperto e muito matreiro.
Com palhas e ramos trabalha um tolo,
Ele fez a casa só de TIJOLO.
«Aqui não me apanhas», o porco disse.
«Apanho-te já, tens muita tolice.»
«Para isso precisas de muito soprar
E a minha casa não vai abanar.»
O lobo soprou que nem furacão,
A casa era forte, soprava em vão.
«Não a deito ao chão por mais que me irrite.
Vou deitá-la ao ar com dinamite.»
«Grande malvado!», gritou o porquinho,
«Hei-de salvar-me. Espera um pouquinho.»
No telefone pegou apressado
O nosso porco tão ajuizado.
À espera de ouvir algum bom conselho
Ligou para o Capuchinho Vermelho.
«Alô», disse ela, «Quem está a falar?
És tu porquinho, que me vens contar?»
«Preciso que me ajude , Capuchinho,
Tenho problemas com um mau vizinho.»
«Vamos ver o que posso fazer...
Ah, é um lobo que te quer comer.»
Disse a menina nada amedrontada,
Pois com lobos estava habituada.
«Ai a minha vida corre muito torta»,
O porco disse, «Tenho um lobo à porta.»
«Os meus cabelos eu estava a lavar,
Espera aí, que já os vou secar.»

Pouco depois, através da floresta,
Chegou a menina, brava e lesta.
Lá estava o lobo, de olhos a brilhar
Como dois punhais prontos a cortar,
Abrindo a bocarra, afiando os dentes,
Rasgando a terra com garras valentes.
A menina puxou da camisola
Com rapidez sua velha pistola.
Mais uma vez no lobo acertou,
Só com um tiro o bicho matou.
O porquinho, espreitando pela janela,
Aplaudia aquela bela donzela.

Porquinho, nunca deves confiar
Que moça fina te queira ajudar.
Capuchinho Vermelho tem meu bobo,
Dois belos casacões de pele de lobo.
E viaja com MALINHA DE MÃO
FEITA DE PELE DE PORCO, pois então!

in Histórias em verso para meninos perversos
Roald Dahl

1 comentário:

Fatima Carmo disse...

Ao ler e reler a história dos lobos
Fiquei com vontade de uma arma ter.
Vestir de vermelho, afrontá-los todos
Dar tiro certeiro e a todos vencer.