Parti com o nó na garganta de quem não se conseguiu despedir do sol, do mar, do clima…parti com a certeza de que regressaria e habituei-me a viver num novo lugar como se ali fosse ficar para sempre. Comecei tudo de novo! Bebi da sensação de renovação que nos invade sempre que empreendemos uma nova jornada. Conheci outras pessoas, outros lugares, senti outros cheiros e outros sabores. Tentei apreciar todos os momentos….nem sempre consegui! Às vezes a nostalgia deixa a saudade falar mais alto e somos tentados a simplesmente deixar passar o tempo. Outras vezes a racionalidade mostra-nos que a mágoa da ausência de algo ou de alguém que nos é querido não se pode evitar, porque vamos sempre sentir saudades das coisas que nos preencheram e que tivemos de deixar para conhecer outras que, certamente, também nos deixarão saudade ao partir.
Quando o Outono chegou, deslumbrei-me com os tons de castanho que cobriram as ruas e foram despindo as árvores….mas senti saudades do cheiro a castanhas assadas, do verão de S. Martinho, do dia do bolinho, …do meu avô Jorge, que já partiu mas que adorava bebericar água pé, enquanto degustava as castanhas acabadas de assar num assador familiar, improvisado (uma cafeteira de alumínio com buracos no fundo).
Quando chegou o Inverno, um manto branco veio tornar mágicos alguns dos nossos dias e o frio que se fazia sentir foi, em muito, suavizado pela alegria das brincadeiras com os cristais formados pelas minúsculas partículas de gelo….mas senti saudades do crepitar da lareira, dos lanches intermináveis, dos serões com os amigos.
Quando chegou a Primavera, o milagre da renovação ocupou todos os lugares da mãe natureza, deixando-me extasiada com tanta beleza….mas senti saudades das searas verdinhas, do cheiro a terra molhada, do dia da espiga.
Agora estamos no Verão, que da estação só tem mesmo o nome, e a chuva e o frio não trazem consolo algum….sinto saudades do sol, da praia, do cheiro a maresia, do calor abafado que parece cortar a respiração e nos impede de dormir à noite.
A minha saudade extingue-se a sudoeste daqui, num lugar habitado por pessoas que fizeram de mim aquilo que hoje sou, que cresceram e se modificaram de um modo mais ou menos próximo, e que trago dentro de mim para onde quer que vá. E sei que, a cada regresso, a alegria será mútua e as conversas serão retomadas como se tivessem ficado suspensas no minuto anterior.
A sudoeste daqui há um lugar repleto de magia que faz o imenso oceano sentir inveja da plenitude da sua beleza, um lugar onde o céu e o mar se fundem, um lugar pelo qual me enamorei há muito tempo e que me mantém cativa.
A sudoeste daqui existe um país pequeno com gente muito grande.
A sudoeste daqui existe um cantinho à beira-mar plantado onde existem as melhores paisagens, a melhor comida, o melhor vinho, o melhor futebol, os sorrisos mais espontâneos, o sol, a alegria e um imenso céu estrelado para sonhar um futuro melhor!
A sudoeste daqui fica PORTUGAL!
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Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Young
4 comentários:
Grande frase!!! É olhar para dentro que nos faz perceber o que somos!!! O quão frágeis e fortes, tristes e alegres. egoistas e generosos. o que amamos e odiamos em nós e nos outros... ACORDAR É BOM nem que seja para termos a liberdade de escolher continuar adormecidos...
beijo prima!!!
A saudade é um perfume que se refina com o passar das horas.
; )
Vamos sempre sentir saudades do bom que ficou para trás. Eu por exemplo arrepio-me de saudades do alentejo, dos meus passeios de bicicleta pela ciclovia mais movimentada que conheço em Portugal, do verão e do inverno, dos secretos, do molhó bico, do gaspacho, da casa, da varanda, do cheiro, da planície... e do meu pai...
Custou-me muito chegar aqui, a Leiria. Mas o caminho é sempre em frente e um dia, mais tarde, ainda vou olhar para estes dias e sentir saudades...
Mas o alentejo tem outro encanto!
Faço minhas as tuas palavras!
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