segunda-feira, 2 de julho de 2007

Sofia


Quando os teus olhos se cruzam com o espelho que imagem vês? Encontras em ti alguns vestígios da menina linda por dentro e por fora, cuja pureza e a ingenuidade, a par com a sua extraordinária inteligência, a tornavam numa pessoa tão especial? Pergunto-me o que pensas, o que vês, o que fez com que num qualquer momento tivesses escolhido este caminho que te afastou há tanto de todos nós? Dou voltas e voltas na cama….sinto uma angústia que me invade….culpo-me e desculpo-me, culpo os outros e desculpo-os, procuro razões onde elas não existem e tento em vão encontrar soluções. Gosto tanto de ti! Queria ao menos que soubesses isso! Dentro de mim não existe a imagem deturpada que actualmente reflectes no espelho….dentro de mim, continuas LINDA, como sempre foste.
Recordo o tempo em que nos divertias a todos com as tuas piadas e o teu sorriso contagiante, mas as vezes tenho dúvidas de que algum dia tenhas sido realmente feliz. Porque é que nenhum de nós nunca viu isso? Como é que nos distraímos tanto para que a tua fragilidade nos passasse ao lado? Como é que o escondeste tão bem?
Não sei nada de ti há demasiado tempo! Não me refiro à última vez que estivemos juntas, mas à última vez em que abriste uma fresta de ti e me deixaste espreitar lá para dentro. Tentei sempre entender-te, mas sei que nunca o consegui. Se calhar tentei demasiado dar-te a conhecer a minha visão das coisas, em vez de tentar perceber realmente como é que tu as vias….desculpa-me por isso! Só queria….só QUERO que sejas feliz!
Sempre tiveste pressa de viver…querias descobrir tudo, explorar tudo, saborear tudo. Mergulhavas, com uma coragem que sempre invejei, em tudo o que fazias e vivia-lo intensamente….sempre foste destemida! Sempre encaraste a vida com determinação! Será que ainda és assim? Ou limitas-te a reagir ao que se passa à tua volta e às ordens que o teu corpo te dá num perigoso jogo com a morte? O que é que te move? Que motivações são as tuas? Onde estão os teus sonhos? Quiseste ser tantas coisas, lembras-te? Querias ser bailarina….professora…. Podias ter abraçado o mundo e tê-lo pintado de cor-de-rosa (ainda é a tua cor preferida?), mas preferiste escurecê-lo e torná-lo sombrio, tão sombrio que já não te encontro na penumbra. Quanto tempo mais vais fechar os olhos e continuar entranhada nessa realidade tão deturpada que nada constrói, só destrói. Corrói o corpo e a alma, rouba o sorriso mais lindo e muda a imagem para aquela que agora o espelho te devolve.
Anseio pelo dia em que te vais rebelar, o dia em que algo dentro de ti faça despertar a coragem necessária para que dês o primeiro passo e te permitas construir pontes em vez de muros e, finalmente, encontrar o caminho de volta. Nesse dia, como sempre, vou estar aqui de braços abertos para lutar contigo as tuas batalhas, mesmo as mais longas, mesmo aquelas que, à partida, possam já estar perdidas. Dividirei a minha força contigo para que a tua ansiedade não mais te derrube, para que possas resistir e para que, pela primeira vez, possas usar o tempo a teu favor. Lembra-te nunca é tarde para mudar tudo….basta QUERER e ACREDITAR!



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A esperança é um empréstimo que se pede à felicidade.
(Rivarol)



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Para a Sofia, com muito amor.





Fix You (Cold Play)



3 comentários:

Anónimo disse...

Partiu.
E deixou em todos nós um vazio imenso de presença amargurada. Apesar de tudo ainda seremos todos um só, unindo forças para que o futuro seja diferente do passado e melhor, mais lúcido e mais vivo do que o Hoje. Todos amamos a Sofia por demais e todos a queremos de volta à racionalidade da beleza a que nos habituou.

Mas... Onde estás Sofia? Quem te levou? Porque esqueces-te tudo o quisemos ensinar-te?

Tristemente ausente, continuas no coração de todos nós e, para além do desespero do inimaginável continuamos, veementemente a desejar o teu regresso.

Um Pai triste e preocupado.

PS. Desculpa a inserção no teu Blog de um comentário a ti não destinado.
Beijos.

Anónimo disse...

As palavras que tive o privilégio de ler traduzem um desassossego tão arrepiante que todas as palavras em mim se fazem hesitantes.

As únicas palavras decididas que conheço e que faço solidárias com aquelas que li são as que querem sempre e que acreditam constantemente que a vida é sempre credora de um qualquer sentido, seja ele qual for.

Com a decisão que só nas palavras posso revelar, quero acreditar que o que somos pode ajudar a todos - os que nos conhecemos e os que não nos conhecemos - a ser o horizonte da Sofia, um horizonte com muitas moradas, todas habitadas pela palavra VIVER, sempre com a palavra VIVER a namorar.

Anónimo disse...

A tua inabalável determinação em continuar a ser o pilar da família onde nasceste, a enorme capacidade de acolher no teu imenso colo os problemas dos outros e a inteligência com que escondes, quase sempre, o teu sofrimento, fazem com que tantas vezes nos esqueçamos de ter uma atitude mais contida, derramando inexoravelmente no teu dia-a-dia todas as dores que nos atormentam. Sabemos que a tua força interior assenta numa família maravilhosa cheia de amor e compreensão. Por isso vamos achando que tudo podes. E, no pressuposto de que aguentas sempre mais um pouco, aqui vai o poema que escrevi para a Sofia, porém, sem esperança de que ela alguma vez o leia.

Dei-te aquela saia branca
E uma blusa amarela...

Da saia fiz um barquinho, da blusa fiz uma vela.

Quis que fosses a mais linda
Da rua da tua vida...

Mas veio um vento tão forte,
Rasgou a vela e o norte,
Tapando o sol com tal fúria,
Que o teu corpinho desnudo só se via na penumbra...

Foi mesmo uma grande sorte
Que tu escapasses da morte
Que espreitava sequiosa...

Porque o doce que tu és
Fazia dela gulosa...

Dei-te aquela saia branca
E uma blusa amarela...

Imaginei-te tão linda,
mas nunca te vi com ela...

(à minha filha Sofia, num dia mais triste)