quarta-feira, 28 de maio de 2008

A nostalgia da partida


Sempre me surpreendi com as partidas que a mente humana costuma pregar.
Há já algum tempo que me queixo, que barafusto, que digo que estou farta, que não aguento mais viver aqui. Contudo, à medida que a hora de partida se aproxima, sinto uma mistura de emoções que vão desde a ansiedade da partida, ao sentimento de angústia por a saber definitiva.
Não posso dizer que não tenha gostado de estar aqui, não seria justo depois de tudo o que aprendi, de tudo o que cresci, do bom que foi fazer tudo, mas mesmo tudo, a quatro: uma oportunidade única, da qual só vou conhecendo o real valor agora que se aproxima a hora da despedida (não fosse eu alma lusa).
Não foi como eu esperava, não foi como eu queria, e, por isso mesmo foi tão especial. Julguei que iria fazer muito mais do que fiz (a nível pessoal, quero dizer), contudo, não trocaria o que vivi por nada deste mundo. Aprendi tanto!
Os novos amigos, que até há bem pouco não passavam de conhecidos lamentam (porque estas coisas, é sabido, não se forçam, têm de surgir naturalmente), tal como eu, que a espera tenha sido tão grande, e que só agora nos estejamos a aproximar. Agora, que é hora de balanços, de despedidas, de partidas, abrem-se corações e troca-se muito mais do que endereços e telefones.
O misto de sensações que me invade faz com que as lágrimas me escorram pelo rosto quando penso, falo, ou vejo os miúdos no seu dia-a-dia: integrados, felizes, fazendo parte de um todo que me é alheio, mas que me deixa tranquila e feliz. É por eles que me custa, porque não é fácil explicar às crianças que há coisas definitivas na vida. Penso que é por isso que este nó me invade a garganta! Custou-me menos deixar Portugal: sabia que viria apenas por dois anos, que estaria à distância de uma viagem de avião, que iria aproveitar para descansar e viajar. O que me angustia, acho, é o carácter definitivo da partida, o saber que não mais vou viver aqui, não mais vou viver esta vida, acerca da qual protesto (não é fácil ser apenas mãe e dona de casa), mas que me permitiu um sem número de descobertas. Enquanto aqui estive, cresci como mãe, amadureci como mulher e sei, sem qualquer ponta de vaidade, que me tornei numa pessoa melhor.

Sem comentários: